terça-feira, 27 de novembro de 2012

SEM ARTE

"Meus dentes não rangem mais

Os gemidos não precisam ser abafados

Não temo acordar gritando seu nome em sonhos de tesão incontrolável

Mas ainda falta seu ronco baixinho no meu travesseiro..."


27/11/12

quinta-feira, 9 de agosto de 2012


"Enquanto descanso, carrego poemas..."

(BGN)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Tensos



INTENSO

Completo, parcial, anal, frontal, clitoriano, G, Z, múltiplo, masturbatório...
São somente três: os fingidos, os de antes e os de depois dos 40 anos - intensos e eficientes.


E aos 41...
Sinto cheiro de sexo ao amanhecer.
Aquele ranço de suor da noite mal dormida.
Dos corpos querendo mais.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

narrativa da aventura surreal daquela amiga



narrativa da aventura surreal daquela amiga

sexta-feira, atravessou ruas do bairro na calada da noite carregando sua própria bebida rumo ao bar que frequentava, onde esvaziou sozinha a garrafa de vinho chileno, acompanhada de azeitonas e torresmos e mais duas doses da sua cachaça de alambique preferida, curtida na umburama, entre galanteios de um bonito jovem adúltero e de um velho baixinho assanhado que, cumprindo as ordens do proprietário do estabelecimento, a levou para casa, não sem confessar no caminho seus ciúmes, mesmo sem nenhuma esperança de qualquer aproximação entre eles, o que a fez manifestar seu costumeiro desdém disfarçado de compaixão, da qual ela nem se lembraria logo ao deitar-se, pois precisava desconcentrar-se do desejo avassalador por uma convocatória via torpedo, não conseguido graças ao consumo total dos bônus da operadora de celular com seu amigo carente até o dia clarear, quando percebeu o som do despertador confundindo-se com os motores dos carros na rua, a cidade acordando, a boca amarga, a tontura ao fechar os olhos sob o chuveiro e a ligação telefônica daquela que seria a prova de sua ainda inconsciente superação de limite: o dono do bar perguntando se havia chegado bem.

desligou o telefone e pediu que a acordassem somente na segunda-feira às 7h18.

BGN, 20/01/2012 (editado em 23/01/18)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Paxá (06/01/94 – 21/03/11)

Hoje é o Dia dos Santos Reis Magos. Há dezoito anos, em 1994, nasciam o Paxá e a Koca, filhos do Cookie, o cão mais inteligente do mundo.
A princípio, escolhi a fêmea, mas a dona da mãe deles (uma poodle branquinha, com pedigree registrado, cujo nome não me lembro), não queria o macho.
Paxá veio pra mim no 35º dia, após desmamar.
Ainda sem nome, foi chamado de Belchior, Baltazar, Gaspar, Floquinho, Bolinha, e outros nomes bizarros, até mostrar-se um verdadeiro sultão, deitado com as patinhas ao redor das vasilhas, mergulhando a boca na ração ou no leite até dormir saciado e imóvel. No dicionário encontrei a descrição perfeita: Paxá, do persa pâdshâh, título não hereditário de governadores e vizires, no antigo Império Otomano; sultão; poderoso.
Era uma bolinha de pêlos pretos e quando estava dormindo era impossível distinguir onde estava sua cabeça. Acordado, só a língua vermelha destacava.
Morávamos em Piracicaba e Ituverava. Eu me graduando em Engenharia Agronômica, em Ituverava, e fazendo meu Trabalho de Conclusão de Curso no laboratório da ESALQ/USP, em Piracicaba.
Paxá ía comigo, dentro de uma mochila de couro, sempre encantando os que o descobriam ali quietinho, no ônibus ou nas caronas.
Até Guaratinguetá, onde ainda moravam meus pais e irmãos, eram 6h30 de viagem. Se eu não mostrasse, ninguém notava sua presença.
Concluído o curso, iniciei as aulas de mestrado como aluna especial e nos mudamos definitivamente, em 1995, para Piracicaba. Fim das viagens semanais, porém eu dava aulas como professora substituta nos colégios estaduais de manhã e à noite, e estudava à tarde, enquanto Paxá comia o estrado da cama, os pés (somente os esquerdos) dos chinelos, as meias (e engolia!), a escova de lavar roupa (ui!), e fazia xixi em cima de fotos, tapetes e tênis.
Uma vez me irritei e ameacei doá-lo à fábrica de sabonetes Phebo. Ele se escondeu atrás da porta e registrei a foto mais lindinha dele, entre pedidos de desculpas.
Quando desisti do mestrado, veio a primeira depressão. 8 dias e noites sem me mexer, sem tomar banho nem comer. Só me levantava para colocar ração e água pra ele. No sétimo dia a ração acabou. Tive que juntar forças um dia inteiro para sair para comprar algo e fui reconhecida por um colega esalquiano. No hospital, minha pressa era me recuperar logo para revê-lo.
Meu pai me buscou e acolheu, a princípio cheio de restrições quanto ao "cachorro ficar dentro de casa". Mas ou ele ficava dentro ou eu ficaria fora com ele!
Por uma fresta da porta, o Paxá ficava horas de namorinho com a Bony, uma vira-latas velhinha que foi o seu único amor. Ela faleceu enquanto ele ainda estava em Guará, e ele continuava na mesma fresta tentando sentir seu cheiro, resmungando baixinho sua falta.
Fui contratada para trabalhar em São Paulo. Diante da promessa de grandes ganhos, deixar o Paxá sozinho de segunda a sexta e visitá-lo nos finais de semana seria uma situação temporária e suportável.
Enquanto fazia esforços para convencer minha avó a me permitir trazê-lo para o apartamento, casei e mudei.
O novo apartamento era enorme e tinha uma sacada que o abrigaria confortavelmente. Mas agora o trabalho de convencimento havia aumentado exponencialmente: além da restrição do meu companheiro, meu pai e minha madrasta (hoje ex-madrasta) dormiam com ele SOBRE a cama e a cada final de semana que eu ía para resgatá-lo, choravam e pediam um novo prazo para se acostumarem com a idéia de deixá-lo ir.
O tempo foi passando, foi ficando mais difícil, e fui convencida a comprar um substituto - como se isso fosse possível.
Quando me mudei para Santa Rita do Passa Quatro (estado de São Paulo), a escolha pela casa foi em função da sua volta ao meu convívio. O quintal e a edícula seriam dele e da Petit, recém-chegada. Enquanto eu estivesse em casa, estariam ao meu lado. Ou no meu colo, ou eu no chão com eles.
Também estava junto este tempo todo a Luga, minha tartaruga, um ano mais velha que o Paxá, e que finalmente sairia do aquário para um terrário enorme que eu mesma construí, com uma piscininha com peixinhos nadando, rampa para subir para a terra, plantinhas...
Dizem que os animais "puxam" pela personalidade de seu dono. Paxá veio para mim quando eu ainda era praticante de yoga, mastigava 45 vezes a cada garfada, era tranquila e atenta. Já a Petit era brava e estressada, assim como eu no auge do meu sucesso profissional e fim do casamento.
Ela era minúscula perto dele, mas o suficiente para infernizá-lo com seus já 7 ou 8 anos de vida. Não podia vê-lo deitado que mordia seu rabo e orelhas, latindo como chamando para uma briga. Bastaria uma bocada dele para pôr fim àquele duelo, mas ele sempre optava por se levantar e mudar silenciosamente de lugar. Às vezes ainda com ela pendurada pela boca grudada nos pêlos de sua orelha, grunhindo sem cessar.
Em 2003, viemos para São José dos Campos: Paxá, Petit, Luga e eu. Dia seguinte à mudança para o apartamento, levamos a Luga para o sítio do meu pai. Com uma tela de galinheiro, cerquei aproximadamente 5 metros quadrados de área seca e com água e orientei o caseiro a dar ração dia sim, dia não, até que se ambientasse e pudesse se alimentar sozinha dos peixes do lago.
Conta meu pai que periodicamente vai ao lago, chama seu nome e aparecem 5 a 6 cabecinhas. Uma vez eu vi e chorei copiosamente.
Com Paxá e Petit no apartamento acarpetado, tive que iniciar uma rotina intensa de passeios. Paxá, apesar de seu histórico de cinomose, leptospirose, pneumonia e outras doenças que superamos com muita dedicação, amor e remédios, ainda estava muito saudável, enxergando bem e fazendo amizades por onde passava com sua inseparável bolinha.
De cara, todos ficavam encantados com o diminuto tamanho e grande beleza da Petit. Um quilo e duzentos gramas de pêlo abricot, vencedora do primeiro lugar no único concurso de cães do qual participou. Mas sua intolerância e irritabilidade logo desviavam a atenção para aquele grande, amável e pacato companheiro disposto a correr repetitiva e insanamente atrás das bolinhas que jogassem. Até fazer feridas nas patinhas e eu precisar intervir para interromper a brincadeira.
Aos 5 anos e meio, numa difícil fase da minha vida, Petit faleceu de uma grave inflamação no útero. Chegando da clínica veterinária, Paxá veio me cheirar. Contei a notícia baixinho, com a voz ainda embargada, e ele correu para debaixo da mesa da cozinha, como se tivesse levado uma enorme bronca. Não saía de lá e não quis se alimentar por dias.
Até que um amigo nos convidou para ir a uma cachoeira espantar a tristeza.
Recuperou-se e éramos novamente eu e ele nesse mundão.
Fundo do poço, desempregada e despejada do apartamento, fomos nos mudando: uma edícula de fundos no fundo do Novo Horizonte, uma edícula estranha com uma pessoa estranha no Sul da Zona Sul, um abrigo com pessoas amigas e gatos nem tanto, outro fundo dos fundos e sua saúde piorando.
Sua visão foi diminuindo, a audição se tornando quase imperceptível, os passos ficando menos flexíveis, mas ainda frequentávamos a noite cultural joseense e das redondezas. Íamos à praia, às montanhas, aos bares... Foi nomeado o cão mais boêmio dessas terras!
Cada vez mais preferia ficar dentro do carro, seu local preferido neste mundo.
- Seguuuuura, Paxá! - eu sempre repetia quando não via um obstáculo na rua, e isso sempre acontecia enquanto eu dirigia. Quando mais jovem, ele se firmava no banco, como quem se prepara para subir numa montanha russa. Com o tempo, foi ficando mais difícil e às vezes caia no assoalho e levantava-se em seguida, meio constrangido. Com o tempo, caía e preferia não se levantar para não correr tanto risco. Com o tempo, viajava no chão, mais seguro.
No seu último ano, sem ouvir, nem mais enxergar e mais teimoso do que nunca, fomos acolhidos numa casinha muito simpática, com um dono simpático e muito amoroso que não poupava esforços para agradá-lo. Sentava-se ao seu lado e passava horas fazendo carinhos em sua cabeça, como eu já nem ousava mais fazer, tamanho o medo que me afligia por saber de sua ausência anunciada.
De volta da nossa última viagem à praia, sua saúde foi sucumbindo cruelmente. Internações, remédios, soro, fraldas, não poupamos esforços nem tempo nem dinheiro para amenizar seu desconforto. Revezávamos nos cuidados, forramos o chão com material anti-derrapante doado por um querido amigo, abrimos mão das curtições dos finais de semana e até do feriado de Carnaval.
Mas o sofrimento não seria tolerado!
Em 21 de março de 2011, o veterinário que o acompanhava, consternado, fez um discurso exaltando toda a dedicação e lamentando a ineficiência do tratamento diante das sucessivas convulsões e complicações.
A dor não seria permitida!
Errei. Pedi 10 minutos a sós com ele. Errei. Deveria ter pedido mais um mês, uma semana, um dia que fosse. Errei.
É meu único arrependimento.

Não nos mudamos para a caverna. Fui sozinha.
Sozinha passei minhas primeiras férias, meu primeiro Natal e primeira Virada de Ano sem ele. E hoje seu primeiro aniversário distante.
Ainda virá meu primeiro aniversário, o primeiro carnaval... algumas frustrações e conquistas que não serão compartilhadas.
Mas amanhã será o primeiro dia do fim do meu luto.
De agora em diante, só as lembranças e sensações boas.
Para que ele descanse em paz. E eu sinta alegria cada vez que sentir seu cheiro pela casa e uma saudade boa me lembrando todas as noites do seu ronco baixinho embaixo da minha cama.