terça-feira, 24 de maio de 2011

MULHER INDEPENDENTE




Quando ouço um desaforo,

volto

para a MINHA casa.

 
 
Bê Galvão

domingo, 22 de maio de 2011

TODA ESCOLHA É UMA PERDA




Angustiante é o duelo entre vontade e precaução.

Entre instinto e pudores.

O aperto de mãos ou da fivela do cinto?

Complicar a vida preserva amizades.



Bê Galvão
ago/09

2007/2008

2007/2008

Hora de pensar no que foi bom, ruim ou que não aconteceu durante o ano...

Em 2006 aprendi a chorar, pensando que não fosse mais suportar, e 2007 começou cansativo e triste. Parecia que seria um ano sem fim. Mais frustrações, mais decepções, dificuldades...

Até que o inverno passou e em Setembro - ai, que setembro! - parecia que a tormenta ía passar. Mudei de casa, novas rotinas, novas companhias, novas experiências, novo trabalho (e agora bem próximo do que eu tanto queria)... tanta energia boa que trouxe até meu gatinho de volta... parecia que seria uma primavera lindamente colorida.

Esses últimos tempos tinham sido de muita persistência.
Persisti na busca de empregos que só faziam me humilhar ainda mais.
Mas também persisti em algumas amizades que (hoje vejo) valeram muito a pena.
Teimei (teimar, para mim, é persistir além do suportável), teimei mesmo em me manter viva, e persisto teimando em acreditar que são exceções a falta de respeito e egoísmo de alguns.
Resisti tanto, que acabei não percebendo que persistia numa paixão vazia, fantasiada de liberdade descompromissada.

Agora vem a reação à toda essa vivência. Não há como fugir.
Aquele sorriso gostoso e espontâneo ainda aparece em algumas fotos, mas o coração cedeu aos apelos do cérebro e este, por sua vez, tirou o colorido dos meus olhos.

Tudo isso me assusta porque nunca havia enxergado a vida em preto e branco. Real e cruel como ela é.

O que? Isso que é a tal da maturidade? É se decepcionar, entristecer, endurecer?

Pois que venha mais um ano, 'pero sin, perder la ternura, jamás!'


(dez/07)

não me lembrava de ter escrito isso!

"o exercício de recolher as pálpebras e permitir à luz invadir minhas pupilas todos os dias"


Antes de dormir preciso pensar num motivo para me levantar no dia seguinte. E precisa ser algo importante, o suficiente para me impulsionar – mesmo que de forma inconsciente - na hora mais difícil para mim, que é ao acordar.

Por isso a necessidade de estar perto de amigos, de pessoas boas, que me surpreendam com suas atitudes e reforcem a necessidade que tenho de acreditar que a bondade é inerente ao Homem.

Assim nasceram minhas grandes idéias, os eventos, atitudes positivas que atraíssem pensamentos positivos. 

Assim errei, refiz, desfiz.

Assim permiti muitas vezes "ser explorada", pois seria necessário ser mais, fazer mais, acordar mais.

Alterei minhas prioridades, pois a necessidade de motivação para acordar todos os dias era mais importante do que a manutenção do mínimo material que me bastasse.

Até que perdi o controle. Parece lógico? Ah, tá. Pra mim ainda é incompreensível.

Saber que sou foco de inveja, ciúmes, que incomodo quando acerto, a ponto de desejarem meu mal, isso me assusta, sim.

Hoje convivo diariamente com pessoas que acreditam na humilhação como forma de crescimento do outro. E isso me machuca. E dificulta bastante fazer o exercício de recolher as pálpebras e permitir à luz invadir minhas pupilas todos os dias.

Por isso cancelei os saraus, recolhi-me, escondi as vontades de fazer outros eventos, onde reunia as pessoas que me ajudavam a dormir com mais motivação.

Porque tenho medo. Da mesma maneira que percebo a materialização do bem, acredito no inverso, apesar da minha idiota incapacidade de imaginar alguém desejando o mal de outro.

E fico confusa, me sinto limitada por não entender quando tudo se mistura: o que era para ser motivo de orgulho e alegria, transforma-se em decepção e prejuízo.


Não é nada mais do que possa, nem que já não tenha suportado.

Agradeço se alguém puder consultar meu mapa astral e me avisar quando houver novamente alguma esperança.

09/12/08

Série "A paixão por GH" - janeiro/2009

PRAZER EM APAIXONAR-TE
Até que numa noite, sob a Lua e a música de Geraldinho:
— Beatriz...
— Você que gostaria de conhecer o George Horácio, do Zine?
— Ao seu dispor!

As tochas de fogo realçavam sua aura.
Na sombra do seu rosto, pude ver a face mais bela, a brilhante pureza de seus olhos e o sorriso mais delicioso naquela boca ainda cerrada após o irônico galanteio.

Era da altura dos meus sonhos.
Seus braços, do tamanho do meu travesseiro.
O peito quente, peludo talvez, me aninharia anos a fio.
As pernas - grossas com certeza - me acompanhariam livremente.
E os pés, ah! os pés, macios (ou com meias), roçariam os meus em noites memoráveis.
— Muito... prazer, Beatriz! 


PRAZER EM APAIXONAR-ME ou RIMAS DA MINHA VIDA

Tanto fiz por ele...
Emagreci,
me bronzeei,
cuidei dos cabelos,
pus rimas na minha vida...
Quando percebi,
estava apaixonada
por mim!

Quando percebi,
estava apaixonada por mim!
Pus rimas na minha vida,
cuidei dos cabelos,
me bronzeei,
emagreci...

Ah! Tanto fiz por ele...

Beatriz Galvão
da Série "A paixão por GH" - janeiro/2009




EX-OFFICIO

Esse feitiço que me consome
Esse encantamento que não passa
nem com reza braba
nem com sal grosso três sextas-feiras

... me faz tão bem!

foi deste texto que surgiu o poema! não sei a data...

MENSTRUAL

"Tinha tudo para dar errado na vida: negra, lésbica e pobre. Mas estou aqui" (Francisca Fran, linda, durante o Show Autoria, no Photozofia, em São Francisco Xavier)

Eu ainda não cheguei a lugar nenhum. Nem sei aonde quero chegar. Sou teimosa, exigente, chata mesmo. Minha vida é toda planejadinha. "Calma, vou ver na minha agenda se posso". Arre!
Sou mulher de um homem só. Um de cada vez. Intensamente. Odeio todos os afazeres domésticos, mas adoraria morar numa casa com garagem para poder eu mesma lavar meu carro.
Se já tirei proveito de alguma situação, não me orgulho disso. E sei que isso incomoda.
Adoro comer raiz-forte até escorrer o nariz. Uma das poucas sensações hilariantes que me permito.
Uma das poucas maldades que já fiz foi quando vi o livro "O que toda mulher inteligente deveria saber". Só sei que não queria lê-lo. Presenteei uma amiga burra. Ela adorou.
Gosto de ler Ivana Arruda Leite em "Ao homem que não me quis".
Nos poemas que declamo, exponho minhas dores, detalho meus amores. Meus amigos gostam. A depressão também, mas se esconde.
Tenho vergonha das vezes em que fui demitida. E da vez em que demiti.
Uma noite por mês, desligo o celular.
Não preciso mais falar.
Não quero escutar mais ninguém.
E nos seus braços, amanheço a mesma mulher.


 
A mesma, porque não mais nem menos feliz, pois não há de se contar a felicidade.
Não mais nem menos satisfeita, porque a satisfação é de estar viva para poder desfrutar deste momento.
Não mais nem menos bela, porque é a sua beleza que me guia.

Série "Novos Ares" - junho/2009

Fogoágua
As gotas de vinho
escondidas sob minhas vestes
escorreram com a
água.
O desejo de embriagar-te
só dissolve
na tua
saliva.


Terra
Não senti a gravidade
no teu corpo
Não senti teus pêlos
na  minha pele
Nem teu cheiro, teu gosto
Tuas mãos, tua língua
teu gozo.
Só os meus lençóis.

Ar
Nunca escrevo o terceiro poema
Aquele celebrando o amor
São sempre dois
Dois copos
Dois corpos
Duas histórias
Um fim
sem meio
Beatriz Galvão
Série "Novos Ares" - junho/2009


Em tempo, "Fogoágua", nos ensinamentos Ayurvédicos, é uma referência ao dosha Pitta:





"O dosha Pitta, fogo e água, é quente, moderado e oleoso (úmido), atua principalmente na função metabólica e digestiva. No tubo digestivo localiza-se no estomago e duodeno ( intestino delgado). Pitta desequilibrado ou patológico promove um quadro clínico relacionado ao aumento de fogo e água (calor e umidade) no nosso corpo físico: azia, queimação abdominal, fezes soltas, calor no corpo, aumento da sudorese ( suor), pele sensível e vermelha, olhos vermelhos, irritabilidade e agressividade. Algumas doenças que podem estar relacionadas ao dosha Pitta: gastrite, ulcera digestiva, regurgitação, diarréia, hepatite, inflamações, acne, crises de fúria e ciúmes, climatério e menopausa, enxaqueca e estresse exacerbado."


Fonte: http://www.ayurveda.com.br/ayurveda/home/default.asp?staticpage=yes&titulo=Ayurveda

também escrita em 2006

Com esta redação, fui classificada num concurso.

"Então olha a pose" é um refrão da música Fotografista, do Trem da Viração.



OLHE A POSE!

É comum fotografar e guardar as fotos de momentos felizes. Passeios, festas, sorrisos, encontros, tudo lembranças que ficarão armazenadas em álbuns, caixas, computadores, estantes, paredes. Acessíveis, proporcionam ao contemplador sensações diversas, de nostalgia, saudades, alegria. Quase sempre despertando o desejo de revivê-los tal como acontecido.

Mas onde estão registrados os ditos maus momentos? Quem fotografou sua demissão? A assinatura do divórcio? A decisão errada? São igualmente únicos, momentos que não voltarão, deixando marcas, despertando sensações e desejos. Desejo de que não se repitam, de que fossem diferentes. Se fotografados, quais reações desencadeariam a seu observador? Medo, raiva, angústia? E reflexão, ponderação, desejo de fazer melhor!

Por isso, não devemos esquecer os nossos erros, ignorando-os como se nunca houvessem existido. Nem tampouco carregá-los sistematicamente, exibindo-os e valorizando-os a todo instante, mas sim contemplá-los tal qual a bela foto no domingo de sol na praia, analisando o cenário, os personagens, percebendo as reações que despertam após o tempo decorrido e sabendo-se das conseqüências daqueles desastrosos atos.

Estaremos assim evitando a reprodução dos fatos indesejáveis e revelando somente o que houver de melhor em nossas vidas.

Então, "olha a pose"!

ainda em 2006

MAIS UM CAPÍTULO DA MINHA VIDA...

Já passava da 1 hora da madrugada de um domingo para segunda-feira.

Terminei tudo que estava fazendo: e-mails respondidos, orkut e site atualizados, conversas no MSN encerradas. Faltava só me despedir do gerente, atravessar o salão, entrar no carro e pegar o rumo de casa, certo?

Se desviasse o caminho, estaria infringindo as principais regras do "Manual Beatriz de Como Sair Sozinha":

Regra n° 1: USE ROUPAS DISCRETAS (eu vestia calça e blazer vermelhos)
Regra n° 2: SÁIA DE CASA CEDO (olha a hora que era!)
Regra n° 3: VÁ A LUGARES CONHECIDOS (mas eu queria conhecer o tal do Boemia...)
Regra n° 4: PROGRAME-SE, MAS ESTEJA ABERTA PARA VÁRIAS SURPRESAS (esta regra eu não quebro nunca!)

Enfim, seria um desafio e tanto pra mim, já acostumada às tantas regras que me imponho:

não fume de manhã,

não coma chocolate,

não acorde de mau-humor,

não sinta medo,

não sinta fome,

não sinta frio,

não reclame de sentir.


Fui! Não que tenha pensado nisso tudo, simplesmente fui.

Ao virar a Rua Tívoli, avistei 2 carros manobrando em frente ao Boemia já fechado. Pensei numa alternativa rapidamente: Rapsódias! Mas tão longe para o avançado da hora...

Os carros esperavam minha passagem para continuar a manobra. Pensei que seriam funcionários do bar, mas ao me aproximar mais, reconheci os rostos. Diminuí, embiquei e brinquei: - Atrapalhando o trânsito a essa hora?

Ganhei um sorriso lindo e um convite para uma saideira. Onde? Numa padaria, lógico!

Aí foi só alegria, como diria o Dudu.

Sempre fiquei intrigada com o que haveria escondido sob aquele ar misterioso. As poucas frases que trocamos nestes anos não davam muita pista. Aí ficava tudo na minha imaginação. O que tanto observa? Que tanto pensa? Por que guarda só para si? Eu nunca saberia...

Sempre o havia admirado de longe. Seu jeito único, inalcançável. Agora estávamos ali há horas conversando tão próximos. Nunca imaginaria que, para conseguir falar também, precisaria interromper a fala daquele moço tão tímido, tão quieto e solitário.

Tampouco imaginava que a riqueza escondida nas suas andanças e nos seus sonhos pudesse nos fazer amanhecer naquele banquinho de balcão tão desconfortável sem que percebêssemos.

Eu ouvindo sua fala macia, admirando seu perfil, sua boca, seu cabelo, suas mãos irriquietas, tentando descobrir seus sinais. Maldosamente fitando seus olhos e achando graça pela rapidez com que os desviava para longe quando nossos olhares se cruzavam. (Num momento pensei que estivesse procurando ver minha aura, tão distante estava seu olhar...)

Alguns conhaques e uma ou duas cervejas depois e nos despedimos com um abraço.
Um abraço crescente.
Primeiro meu braço direito e o esquerdo dele nas costas um do outro, mantendo um certo distanciamento. Seria uma despedida breve. Mas foi se demorando e então seu braço direito também me envolveu e correspondi, levando a minha mão esquerda, que segurava a bolsa, para completar aquele enlace. Beijei sutilmente sua face e nos afastamos, sem combinar nada. Sem sequer trocar telefones. Cada um no seu carro, pegamos o mesmo rumo, até que sumiu do meu retrovisor numa das curvas da Dutra.

Fui para casa feliz, tentando relembrar, nos poucos minutos que me restavam até que adormecesse, de cada pedacinho das histórias que ouvi.

Prometi a mim mesma controlar minha ansiedade e, sem saber que nos encontraríamos casualmente em menos de 2 dias, fiquei literalmente sonhando com esta possibilidade.

2006

Uma das minhas primeiras crônicas. Escrita despretenciosa, comprida, mas leve.
 
 

 

[Recomenda-se ouvir o cd do Trem da Viração enquanto se lê. ]

 

Já que não consigo falar, vou escrever...

Quando fui morar pela primeira vez em SP, desenvolvi uma das minhas teorias, a de que para sair lá seriam necessários 3 'cês': cacife, carro e companhia. Aos poucos fui, eu mesma, derrubando minha tese e fui a teatros, shows, óperas, parques, tudo sozinha.

Lembrei-me disso porque, no momento em que soube dos shows do Zé Geraldo e Trem da Viração em Monteiro Lobato, liguei para a Clis, para a Waine e vários amigos para combinar de ir junto. Deixei tópico na comunidade 'Beira do Riacho' oferecendo carona. Na sexta-feira estava preocupada porque não caberiam todos os meus caronas no carro.

Sábado liguei na MidiMax e descobri que os ingressos estavam esgotados. Comecei a ligar para todos que, um a um, foram justificando suas não-idas: André, Patrícia (que até me avisou do desejo-desistência do casal Luciene-Aratan), Bonny...

Primeira providência: ingresso. Liguei para a Beth do Beira do Riacho. Ela ainda tinha um talão e estava em São José, ía pegar o ônibus das 16 horas para Monteiro. Encontrei-a na rodoviária. Quase comprei 2, caso alguém resolvesse ir de última hora, pois assim não perderia o desconto, mas daí eu ficaria sem dinheiro nenhum. Ainda deixei meu telefone com ela, caso soubesse de alguém oferecendo ou precisando de carona (eu sou uma pessoa muito otimista!!!).

Voltei pra Aquarius, terminei o que era mais urgente e corri pra casa. Voltinha básica com Paxá, banho, vestimentas e meu irmão André, muito gracinha, me levou pra pegar o último circular, às 19h (R$ 2,15). Pediu para avisar se eu fosse ficar por lá ou onde me pegaria na volta, e ainda me emprestou R$ 4,00 pra passagem de volta (que se transformaram em cigarro e quentão). Só pediu para que, quando eu descesse do carro, tirasse a fita do Trem da Viração, que eu estava ouvindo repetidamente desde que gravei...rs.

 

"Da água que o boi bebeu

Bebe não

Deixa pro boi beber

Vá buscar água da mina..."

 

No circular, perguntei à cobradora a que horas chegaríamos e se daria tempo de pegar o outro circular pro bairro dos Souzas. Respondeu-me que um ficava na praça esperando até a chegada desse.

Dei aquela relaxada e percebi que estava mesmo no clima. Ouvia o burburinho das pessoas conversando. Pareciam-me todos alegres, falavam de coisas do cotidiano, do que tinham feito durante o dia em São José, desde quando estavam lá, como estavam os parentes, se iam ao show, que fulana começou a trabalhar e, de vez em quando, a campainha de algum celular se destacava. Nada de PCC. Um senhor com um violão sentou-se ao meu lado, cantarolando. Contive meu ímpeto de puxar uma conversa, e tentando, em vão, identificar sua música, vi uma menina tentar fechar a janelinha e ser ajudada por outras 3 pessoas.

Meus pés, com as 2 meias de lã embaixo da bota, suavam de calor. Minhas mãos, de ansiedade. Meu colo, carregando o casaco, o chapéu e as luvas, estava quentinho. Adormeci.

 

"Pa-ra-ra-rã-rã

Pa-ra-ra-rã-rã

Pa-ra-ra-rã-rã rã-rã-rã rã-rã"

 

Mas a estrada deve ter apenas umas 3 retas e despertei de tanto bater a cabeça no vidro.

 

"Pa-ra-ra-rã-rã

Pa-ra-ra-rã-rã

Pa-ra-ra-rã-rã rã-rã-rã rã-rã"

 

Quase chegando em Monteiro, perguntei ao senhor:

- Onde pego o circular pro Souza?

- No ponto final, na praça, onde vamos descer.

E já emendei: - O senhor está indo tocar lá?

- Não, toquei em São José hoje, moda de viola, sertanejo e umas outras músicas.

Meu celular tocou. Era Júlio, um dos possíveis caronas, mas que no sábado disse que preferia ir mais tarde. Eu disse que já estava a caminho porque todos haviam desistido e ele reclamou que então não teria como ir. Ainda passei o telefone do Rapsódias para que tentasse contato com o Silvinho e a Wanessa.

 

"O fotografista chegou

o fotografista chegou

o fotografista chegou

Então olha a pose!"

 

Paramos na praça exatamente atrás do outro circular. Rapidamente formou-se uma fila enorme na porta. Perguntei ao motorista, que era quem estava vendendo as passagens (R$ R$ 1,70), se passaria em frente ao 'Beira do Riacho'.

- Sim, todos aqui vão descer lá.

Animei mais ainda! Na banco da roleta estava sentado um hippie com 2 quadros cheios de brincos e colares e quando fui guardar o troco, brincou comigo que teria que dar mais R$1,00 pra ele também. Ganharia um anel. Ri, paguei e sentei-me ao lado dele enquanto manejava o alicate e o arame, que transformou num anel em forma de clave de sol.

Uma moça sentou-se ao meu lado e perguntou se estava indo ao show do Zé Geraldo. Foi a deixa! Respondi que sim e, após contar alguns capítulos da minha saga (risos), lamentei que chegaríamos muito cedo, pois ainda eram 20h e o show seria só às 23h. Me socorreu imediatamente, dizendo que estava rolando uma quermesse na pracinha dos Souzas, onde desceríamos. Depois iriam à pé.

Sim, eu estava totalmente no clima.

Todos descemos no ponto final, em frente à Igrejinha. No coreto, 2 caixas de som tocando Sérgio Reis. Uma voz saía estridente do microfone, pensei que estavam leiloando prendas. Lembrei das quermesses em Santa Rita, lembrei da Val, que fez aniversário dia 18 e que, pela primeira vez, desde que a conheci, não liguei. Cheguei mais perto e vi as pessoas apoiadas no balcãozinho de madeira em volta da única barraca: era um bingo. A prenda, um frango assado. Como nas quermesses de Ituverava, quando os empresários da cidade arrematam as comidas e ofereciam para os alunos da faculdade. Que delícia!   Devorávamos os frangos, os bolos, as porções de pastéis que chegavam, tudo com as mãos, na mesma hora.

Dei uma volta na praça e sentei-me no banco de cimento em volta da árvore, ao lado do tablado que expunha doces. Na escadaria havia muita gente sentada, me lembrou São Luís do Paraitinga. Fiquei curtindo tudo aquilo. A música, as pedras cantadas do bingo, as pessoas caminhando, casais de adolescentes de mãos dadas, as crianças correndo, os tiozinhos beldos dançando o tempo todo. Um deles, quando percebeu que tinha platéia (eu!) arriscou alguns passinhos tipo country, com um pé só. E não caiu. Alguém bateu a cartela com o B13: bingo! E outro frango.

Aquilo tudo me lembrou mesmo São Luís do Paraitinga. A Ana (que coincidentemente me ligou domingo), a Lúcia (que passou por aqui domingo), a Daísa (que por incrível que pareça, nunca foi pra lá com a gente, mas sempre está na lembrança). Mais Edilene, Paulinho, Paranga...

A Patrícia ligou, nem ouvi. No orelhão, descobri que meus cartões estavam realmente todos zerados. O André me socorreu de novo ligando pra ela, mas não era nada (hoje descobri que foi a mãe dela, discando errado – e até deixou recado na secretária).

Silêncio só havia raramente, entre uma música e outra, mas os tiozinhos continuavam dançando, o que me lembrou a Luciana Ortiz, em Santa Isabel. Um deles jogou a blusa no chão e dançava ao redor dela, como se a estivesse cortejando.

Pensei: será que não vai passar nenhuma moto pra me lembrar do JM? (como se precisasse disso...) E passou!

Resolvi ser mais sociável (mais?!), levantei, comprei um quentão (R$ 0,50), 3 bolinhos caipiras (R$ 1,00) e 3 cartelas do bingo (R$ 1,00) pra rodada da leitoa à pururuca. Passei longe. Nem o B13 saiu. Mas sempre preferi o azar do jogo.

Chegou uma galera com uma cooler. Misturaram-se aos tiozinhos, que ainda dançavam firmes (mais ou menos!), sem parar. Imaginei várias latinhas geladas, mas só saíam da cooler vodkas, wiskies e batidas.

Eram 22h30 no relógio da igreja e ainda faltava perguntar pra alguém pra que lado ficava o 'Beira do Riacho'. Essa minha timidez ainda me mata... É sério!

Mas começou a chover e fui obrigada a perguntar pro primeiro casal que vi.

Comprei mais um quentão e desci a ladeira asfaltada, atravessei a ponte e reconheci a seta indicativa. Mas... dali pra frente, estrada de terra, molhada, escura, um terror. Nem a luz do meu celular iluminava aquele breu. Me arrependi e desejei que ninguém me visse naquela situação. Morri de medo que o salto da bota escorregasse na pontezinha de madeira, mas foi o lugar mais firme que pisei. Aos poucos, a música da quermesse foi diminuindo e meu medo aumentando. Quando comecei a ouvir a música do Beira do Riacho, ergui a cabeça e vi as luzes do estacionamento. Faltava pouco. Ufa! Mas era a ladeira mais escorregadia.

 

"Se você voltar de São Luís

Já cansada de dançar o boi

Saiba que eu fiquei menos feliz

Naquele dia em que você se foi..."

 

Estava com as mãos tremendo quando entreguei meu ingresso na portaria, devem ter imaginado que era de frio.

Fui direto ao banheiro ver como estava a minha situação. Tudo certo. De cara encontrei a Tatty, que tinha vindo com o Wangy e a Juliana, todos da Vista Verde. Minha carona pra voltar já estava garantida, pensei. Ficou combinado que eu olharia as bolsas e blusas enquanto o Zé Geraldo tocasse, e que depois, durante o show do Trem, inverteríamos. Mas eles resolveram ir embora logo que comecei a dançar. Encontrei a Hélida, também da VV, que estava de carona com um amigo que precisava ir embora às 4 e meia. Tudo bem, se não conseguisse mais nada. Aí encontrei o Júlio, do Pimenta. Beleza! Mas ele se deu bem e também resolveu ir mais cedo do que o combinado. Procurei pelo Silvinho e a Wanessa, mas eles íam dormir por lá mesmo. Nada do Juliano. Ainda tinha sobrado o Bonny e o Júlio, que descobri que tinham vindo com um casal que estava dançando comigo. Engoli meu orgulho e pedi carona pra eles. Seria minha última chance, pois havia comprado 2 coca-colas (R$ 2,00 cada) pra misturar com a cachaça que levei no bolso e não tinha mais nem um centavo.

Me matei de tanto dançar. Já tinha tirado o chapéu e uma das blusas debaixo durante o show do Zé Geraldo. As luvas, nem cheguei a usar. Deixei meu casaco e a bolsa e tudo mais no caixa e cantei e dancei muito.

Quando acabou o show do Trem, fui cumprimentar o Márcio.

Num esforço desmedido pra sutilmente tentar convencer meus caroneiros a estenderem sua permanência, fomos parar na fogueira, onde conhecemos os hippies que vieram naquele segundo circular. Alguns estavam dormindo na grama, com um cobertor que parecia inútil naquele frio. Apareceu um saco de pão. Mas resolveram que estava na hora de ir mesmo. Que pena!

No estacionamento, ainda vi o Márcio Lopes indo embora com o Beto Quadros. Só os dois no carro. Ô desgrameira! Por que não pensei nisso antes?

O Júlio, pra variar, já estava dormindo quando ligaram o carro. Vim cantando, falando pelos cotovelos.

 

"Se eu quiser falar com Deus

tenho que la-iá-la-iá

tenho que la-iá-la-iá

tenho que la-iá-la-iá"

 

Até que no meu quarto 'tenho que...', todos emendaram 'la-iá-la-iá'. Choramos de rir. Deixamos o Bonny em Santana e liguei pro André me pegar na rodoviária. Eram 6h40 ainda. Depois lembrei que não havia avisado que era na rodoviária velha, mas ele estava tão de boa que eu ainda arrisquei um convite pra um café e um pastel no mercadão. Ele topou e ainda pagou!!!

Cheguei em casa quase 8 horas da manhã muito feliz e com tempo para dormir bastante até a reunião do sarau, à tarde.

Como foi o show do Zé Geraldo? Ah! Nem dá pra contar porque fiquei totalmente afônica depois de tudo isso!

BIP CULTURAL: DA DESCARTABILIDADE DAS COISAS E DAS PESSOAS - Be ...

BIP CULTURAL: DA DESCARTABILIDADE DAS COISAS E DAS PESSOAS - Be ...: "DA DESCARTABILIDADE DAS COISAS E DAS PESSOAS Do aparelho celular ao filhote de cachorro que foi comprado numa feirinha mas cresceu, tudo é..."