domingo, 22 de maio de 2011

ainda em 2006

MAIS UM CAPÍTULO DA MINHA VIDA...

Já passava da 1 hora da madrugada de um domingo para segunda-feira.

Terminei tudo que estava fazendo: e-mails respondidos, orkut e site atualizados, conversas no MSN encerradas. Faltava só me despedir do gerente, atravessar o salão, entrar no carro e pegar o rumo de casa, certo?

Se desviasse o caminho, estaria infringindo as principais regras do "Manual Beatriz de Como Sair Sozinha":

Regra n° 1: USE ROUPAS DISCRETAS (eu vestia calça e blazer vermelhos)
Regra n° 2: SÁIA DE CASA CEDO (olha a hora que era!)
Regra n° 3: VÁ A LUGARES CONHECIDOS (mas eu queria conhecer o tal do Boemia...)
Regra n° 4: PROGRAME-SE, MAS ESTEJA ABERTA PARA VÁRIAS SURPRESAS (esta regra eu não quebro nunca!)

Enfim, seria um desafio e tanto pra mim, já acostumada às tantas regras que me imponho:

não fume de manhã,

não coma chocolate,

não acorde de mau-humor,

não sinta medo,

não sinta fome,

não sinta frio,

não reclame de sentir.


Fui! Não que tenha pensado nisso tudo, simplesmente fui.

Ao virar a Rua Tívoli, avistei 2 carros manobrando em frente ao Boemia já fechado. Pensei numa alternativa rapidamente: Rapsódias! Mas tão longe para o avançado da hora...

Os carros esperavam minha passagem para continuar a manobra. Pensei que seriam funcionários do bar, mas ao me aproximar mais, reconheci os rostos. Diminuí, embiquei e brinquei: - Atrapalhando o trânsito a essa hora?

Ganhei um sorriso lindo e um convite para uma saideira. Onde? Numa padaria, lógico!

Aí foi só alegria, como diria o Dudu.

Sempre fiquei intrigada com o que haveria escondido sob aquele ar misterioso. As poucas frases que trocamos nestes anos não davam muita pista. Aí ficava tudo na minha imaginação. O que tanto observa? Que tanto pensa? Por que guarda só para si? Eu nunca saberia...

Sempre o havia admirado de longe. Seu jeito único, inalcançável. Agora estávamos ali há horas conversando tão próximos. Nunca imaginaria que, para conseguir falar também, precisaria interromper a fala daquele moço tão tímido, tão quieto e solitário.

Tampouco imaginava que a riqueza escondida nas suas andanças e nos seus sonhos pudesse nos fazer amanhecer naquele banquinho de balcão tão desconfortável sem que percebêssemos.

Eu ouvindo sua fala macia, admirando seu perfil, sua boca, seu cabelo, suas mãos irriquietas, tentando descobrir seus sinais. Maldosamente fitando seus olhos e achando graça pela rapidez com que os desviava para longe quando nossos olhares se cruzavam. (Num momento pensei que estivesse procurando ver minha aura, tão distante estava seu olhar...)

Alguns conhaques e uma ou duas cervejas depois e nos despedimos com um abraço.
Um abraço crescente.
Primeiro meu braço direito e o esquerdo dele nas costas um do outro, mantendo um certo distanciamento. Seria uma despedida breve. Mas foi se demorando e então seu braço direito também me envolveu e correspondi, levando a minha mão esquerda, que segurava a bolsa, para completar aquele enlace. Beijei sutilmente sua face e nos afastamos, sem combinar nada. Sem sequer trocar telefones. Cada um no seu carro, pegamos o mesmo rumo, até que sumiu do meu retrovisor numa das curvas da Dutra.

Fui para casa feliz, tentando relembrar, nos poucos minutos que me restavam até que adormecesse, de cada pedacinho das histórias que ouvi.

Prometi a mim mesma controlar minha ansiedade e, sem saber que nos encontraríamos casualmente em menos de 2 dias, fiquei literalmente sonhando com esta possibilidade.

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